segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Todo DJ vai ter que sambar

Hoje em dia todo mundo é dijai, desde aquele que produz até o reles trocador de discos, e o Senador Romeu Tuma (PTB – SP) não quis deixar de participar da festa. É de sua autoria o Projeto de Lei que tramita no Senado e que pretende regulamentar a profissão de dj, que passará a exigir, caso seja aprovada, diploma de curso profissionalizante reconhecido pelo MEC ou pelo Sindicato da Categoria. Sendo aprovado no Senado irá para a aprovação na Câmara dos Deputados e sanção do Presidente da República.

Apesar de oferecer vantagens a categoria como vínculo empregatício, definição das obrigações e direitos do empregado e empregador em contrato de trabalho e reconhecimento profissional, resta saber se há um real interesse da classe nessa normalização. Por enquanto parecem estar divididos.

. Tais exigências, no entanto, não serão impostas a dj’s estrangeiros, desde que não fiquem em território nacional por mais de 60 dias. Por falar nisso, a lei define também a obrigatoriedade de que em qualquer evento em território nacional, 70 % dos dj’s deverão ser brasileiros, enquanto a contratação de dj’s estrangeiros ficará submetida ao repasse de “10 % do valor do ajuste à Caixa Econômica Federal em nome da entidade sindical da categoria profissional.”

Logicamente uma lei como essa irá gerar burocracia e impostos para o exercício de uma profissão que, ao crescer, fez também crescer os olhos de quem talvez nem saiba dançar.

Imagine você se daqui a pouco começarem a exigir diploma para músicos, veremos então Chicos Buarque, Marisas Monte e uma infinidade de bandas que se fizeram na prática tendo que voltar a cadeiras escolares para continuar a exercer sua arte. Agora a pergunta que não quer calar: alguém já pensou em exigir diploma univeristário para exercer o cargo de Presidente da República?


Veja o Projeto de Lei na Íntegra no Diário do Senado Federal : Projeto de Lei do Senado nº 740, de 2007. (págs. 46699 a 46702)

http://legis.senado.gov.br/mate-pdf/12179.pdf


terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Com a palavra, Don Juan

Retirado do livro "A Erva do Diabo", Carlos Castañeda


"Quando um homem começa a aprender, ele nunca sabe claramente quais seus objetivos. Seu propósito é falho; sua intenção, vaga. Espera recompensas que nunca se materializarão, pois não conhece nada das dificuldades da aprendizagem.
Devagar, ele começa a aprender... a princípio, pouco a pouco, e depois em porções grandes. E logo os seus pensamentos entram em choque. O que ele aprende nunca é o que ele imaginava, de modo que começa a ter medo. Aprender nunca é o que se espera. Cada passo da aprendizagem é uma nova tarefa, e o medo que o homem sente começa a crescer impiedosamente, sem ceder. Seu propósito torna-se um campo de batalha.

E assim ele deparou com o primeiro de seus inimigos naturais: o medo! Um inimigo terrível, traiçoeiro, e difícil de vencer. Permanece oculto em todas as voltas do caminho, rondando, à espreita. E se o homem, apavorado com a sua presença, foge, seu inimigo terá posto um fim a sua busca. ... nunca aprenderá. Nunca se tornará um homem de conhecimento. ... Não deve fugir. Deve desafiar o medo ... Deve ter medo, plenamente, e no entanto não deve parar. ... seu primeiro inimigo recua. O homem começa a se sentir seguro de si. .... Uma vez que o homem venceu o medo, fica livre dele o resto da vida, porque, em vez de medo, ele adquiriu clareza ... um clareza de espírito que apaga o medo. ...

E assim ele encontra seu segundo inimigo: a Clareza! Essa clareza de espírito, que é tão difícil de obter elimina o medo, mas também cega. Obriga o homem a nunca duvidar de si. Dá-lhe a segurança de que ele pode fazer o que bem entender, pois ele vê tudo claramente.

E ele é corajoso porque é claro e não para diante de nada porque é claro. Mas tudo isso é um engano, é como uma coisa incompleta. Se o homem sucumbir a este poder de faz-de-conta, sucumbiu ao seu segundo inimigo e tateará com a aprendizagem ... até acabar incapaz de aprender de aprender mais qualquer coisa. ... tem de desafiar sua clareza e usá-la só para ver, e esperar com paciência e medir com cuidado antes de dar novos passos.; deve pensar, acima de tudo, que sua clareza é quase um erro. E virá um momento em que ele compreenderá que a sua clareza era apenas um ponto diante de sua vista. E assim terá vencido o seu segundo inimigo,...
Ele saberá a essa altura que o poder que vem buscando a tanto tempo é seu, por fim. Pode fazer o que quiser com ele. Seu aliado está as ordens. Seu desejo é a ordem; vê tudo o que está em volta. Mas também encontrou encontrou o seu terceiro inimigo: o Poder! ... é o mais forte de todoso os inimigos. E naturalmente a coisa mais fácil é ceder; afinal de contas, o homem é realmente invencível. Ele comanda; começa correndo riscos calculados e termina estabelecendo regras, porque é um senhor.
Um homem que é derrotado pelo poder morre sem realmente saber manejá-lo. O poder é apenas uma carga em seu destino. Um homem desses não tem domínio sobre si, e não sabe quando ou como usar seu poder. ...
... Tem de vir a compreender que o poder que parece ter adquirido, na verdade nunca é seu. ... Se conseguir ver que a clareza e poder, sem seu controle sobre si, são piores do que os erros, ele chegará a um ponto em que tudo estará controlado. Então, saberá quando e como usar seu poder. E assim terá derrotado seu terceiro inimigo.
O homem estará então, no fim de sua jornada do saber, e quase sem perceber encontrará seu último inimigo: a Velhice! Este inimigo é o mais cruel de todos, o único que ele não conseguirá derrotar completamente, mas apenas afastar.
É o momento em que o homem não tem mais receios, não tem mais impaciências de clareza de espírito ... um momento em que todo o seu poder está controlado. mas também o momento em que ele sente um desejo irresistível de descansar. Se ele ceder completamente ao seu desejo de se deitar e esquecer, se ele se afundar na fadiga, terá perdido o último round, e seu inimigo o conduzirá a uma criatura velha e débil. Seu desejo de se retirar dominará toda a sua clareza, seu poder e sabedoria.
Mas se o homem sacode a sua fadiga, e vive o seu destino completamente, então poderá ser chamado de um homem de conhecimento, nem que seja no breve momento em que ele consegue lutar contra o seu último inimigo invencível. Esse momento de clareza, poder e conhecimento é o suficiente."