quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Não me venha com chorumelas

Volta e meia vem alguém reclamar que nesta ilha não há nada para se fazer, que aqui não tem cultura, não tem teatro, não tem show, não tem balada, que é praticamente um fim de mundo. Lembro com um certo ar de nostalgia quando praticamente tínhamos um lugar apenas para ir e sabíamos ao certo o horário de chegada de cada pessoa. Mesmo nesta época éramos limitados pela nossa parca visão das alternativas, pois havia sim outros caminhos, e eles não levavam todos ao mesmo lugar.

Eu acredito sim que hoje Florianópolis pode regojizar-se com muitas de suas propostas. Logicamente não é uma São Paulo, mas também não é o interior de Angelina. Para quem se antena há programa de segunda a segunda, desde que você não queira tomar um suco de jaca ou comer um javali ao molho de kiwano às 2 horas da manhã de uma terça feira chuvosa. Na verdade a chuva não faz diferença.

Foi a Karla Francine que botou a pilha e lá fomos nós para a exposição do fotógrafo André Laus na Cor Galeria de Arte lá nas Rendeiras. Sim, nós temos uma galeria de artes nas Rendeiras. A exposição, chamada "Gimme a Break!" retratou os B-boys do "048 Crew" em suas peripécias corporais pelos cantos da cidade. Tivemos direito, inclusive, a apresentação de break dos meninos. Ainda rolou uns drinks com a dignidade de espantar qualquer nóia de Gripe A: uma mistura de gengibre, pimenta,morango, hortelã, suquinhos e a famosa vodka. Djiliça!!!!!

De lá, direto para o show do Dazaranha, que acho que já tá virando sócio da casa de shows. Mesmo assim, faça chuva, sol ou de tufão, os caras conseguem levar uma galera para os seus shows, mesmo sendo sempre igual.
Eu que ando me divertindo com o uso capião que ando fazendo da câmera da minha prima, filmei tudo, ou o que a minha paciência permitiu. Cada vez que isso acontece, Hollywood estremece. Entendeu, né?!?!?



sábado, 15 de agosto de 2009

Rock de Inverno e o eterno ir e vir de Fellini

Foi há três semanas atrás e tudo aconteceu de uma hora para outra, com exceção do frio que continuava insistindo em fazer parte do contexto. Mas tinha que ser, afinal era Rock de Inverno. Assim fui parar em Curitiba, para assistir o festival de música independente, com a pretensão maior de ver pessoalmente a banda que entoava os undergrounds paulistanos nos meados da década de 80: Fellini.

Bem, mas vamos ao início. Foram três dias destinados à música independente com espaço, inclusive, para debate acerca da produção e futuro da mesma. Cheguei no terceiro dia. E as bandas também já haviam começado.

Ainda consegui pegar o remate do Jê Revê de Toi, um duo curitibano que mistura instrumentos analógicos, samples e vocal em português, convertendo o ambiente numa caixa acústica totalmente experimental. Ruído/MM, também de Curitiba, teve a qualidade do seu som prejudicada em função do retorno. Misturando “apenas” instrumentos: 3 guitarras, 2 baixos, piano, bateria, escaleta, acordeon eeee (...fôlego) sintetizadores, mostrou uma sonoridade do jazz ao punk que rendeu um certo estímulo. Todo o resto me fez sentar, despertando apenas um educado “clap, clap”.

Mas chegou o momento mais esperado. Pelo que eu vi a grande platéia estava lá pra ver o revival daquela que foi a gênese do indie brasileiro. Desde 2003, quando então foram convidados para tocar no TIM Festival, a banda paulistana Fellini não se reunia para tocar para o público. Comemorando seus 25 anos de idas e vindas com dois shows ( um em São Paulo e este em Curitiba), a banda formada por Cadão Volpato, letrista, vocalista e mentor intelectual, Thomas Pappon e Jair Marcos nas guitarras e Ricardo Salvagni no baixo, tem o dom de se manter na memória de um público fiel que assiste seus shows com um inegável ar de nostalgia. Porém, os próprios parecem não ligar muito pra isso, mesmo tendo caras como Chico Science, D2, Fred Zero 4 que já declararam terem sido influenciados pelo som do Fellini.

Com Clayton Martins como baterista convidado, Fellini tocou seus clássicos, já que era isso mesmo que o povo queria ouvir. Entrou com “Massacres da Coletivização” do álbum “3 Lugares Diferentes” de 1987, passando por “Rock Europeu” (ovacionado), “Ambos Mundo”, “Clapsidra”, “Zum Zum Zum Zazoeira”, “Teu Inglês”, “LSD”, “Chico Buarque Song” e outras cositas mais. Com direito a gritinhos de “volta, volta”, um Cadão Volpato com estilo de Ian Curtis retorna ao palco para terminar o show com o clássico “Amor Louco”. Abaixo uns videozinhos meio toscos do show.





sábado, 13 de junho de 2009

Ecos do FAM

Acabou a semana. Acabaram minhas férias. Acabou o FAM. Depois de uma semana esquentando as cadeiras do Centro de Eventos da Universidade Federal de Santa Catarina e auditórios adjacentes, fui veementemente convidada a comparecer na vida real.

A 13ª edição do Florianópolis Audiovisual do MERCOSUL contou com uma estrutura bem maior (e melhor) que a dos anos anteriores, um número recorde de países participantes (12) e nada menos que 200 filmes, alguns que ainda não estrearam no circuito comercial e outros que nem irão. O espaço entre a Erva do Rato, filme de Júlio Bressani, que abriu o festival, e Budapeste, o derradeiro, de Walter Carvalho, foi preenchido com uma gama de curtas e longas metragens que iam da animação a documentários. Teve mostra francesa, portuguesa, cordobesa e outras que não levavam o esa, como a peruana e de vídeos feitos por celulares, ou melhor, por pessoas que utilizaram seus mobiles para filmar (Mostra Art.Mov). Também teve bandinha, workshops, lançamentos, homenagens e palestras, tudo para todos os gostos e para quem tinha tempo para ficar lá o dia inteiro (aaah! as férias...).

Mas isso tudo é apenas para situar o leitor (se é que eles existem) no contexto em que assisti Dub Echoes, um dos melhores filmes da amostra, dirigido e produzido pelo jornalista carioca Bruno Natal e com pesquisa de Chicodub.

Plena terça feira à tarde (que saudades das minhas férias!!!) esta que vos escreve deslocou-se para a UFSC para assistir o documentário que conta a história do dub e a sua influência no hip hop e na música eletrônica atual. Surgido na Jamaica nos anos 70, invadiu as sound sistems e conquistou a Europa, local onde é muito mais utilizado, já que no seu berço foi colocado de escanteio. Destacando a bateria e as linhas graves do baixo, utiliza-se do reverb para a propagação ecoante do som.

Dub Echoes não é apenas história, ele esmiúça a técnica e sua utilização, e te faz perceber o quanto este recurso utilizado por músicos (Asian Dub Foundation, Thievery Corporation, Nação Zumbi, só para citar alguns) e produtores do gabarito de Mário Caldato invade o corpo e reverbera na alma. Torna-se uma verdadeira aula com professores mais do que gabaritados como Bunny Lee (produtor e incentivador do falecido King Tubby, o cara que começou com toda a história do dub), Mutabaruka e Lee “Scratch”Perry.

O filme é uma produção independente e levou 5 anos para ser finalizado. Via blog consegui entrar em contato com o Bruno Natal que me concedeu a entrevista que segue abaixo.

Quando e porque você resolveu fazer um filme sobre o Dub?

A idéia surgiu em conversas minhas com o pesquisador Chicodub. Sempre fomos fãs de reggae e música eletrônica e comentávamos o quanto que as técnicas, estética e postura do dub haviam sido encorpordas por outros gêneros, principalmente o drum' n bass. Quando pintou a chance de ir pra Jamaica, por um outro trabalho, decidimos que era a hora decomeçar um filme pra registrar essas conexões, coisa que não havia sido feita ainda.

Você produziu e dirigiu o filme. Que elementos levou em consideração ao escolher o que seria exibido?

Eu e principalmente o Chicodub fizemos uma lista de artistas do nosso gosto pessoal nos quais percebíamos uma forte influência do dub. Somamos a essa lista alguns nomes fundamentais da história desses gêneros e fechamos uma lista dos sonhos. Conseguimos falar com quase todo mundo que estava nela.

Como foi o seu encontro com Lee Perry?

Foi muito por acaso. Tentamos muito falar com ele, desde que começamos o filme, mas sempre desencontrávamos ou nem mesmo conseguiamos contactar sua equipe. Quando ele veio ao Brasil, tentei de tudo e mesmo assim, quando ele soube do pedido de entrevista, negou. O produtor da turnê dele, sensibilizado, nos convidou para ao menos ir ao camarim após o show, para tirar uma foto com ele de recordação. Fui sem câmera, sem a menor esperança de conseguir a entrevista, o produtor tinha inclusive avisado pra não tocar no assunto. Chegando lá, o próprio Lee Perry puxou o papo e nos convidou para ir ao hotel no dia seguinte, antes dele pegar o avião, para falar para o filme. Era tudo que faltava para o filme ficar completo.

Conte alguma história que considera interessante e que não foi para o filme por algum motivo.

O produtor Mario Caldato contou uma história de uma gravação com o Lee Perry na casa do Sean Lennon, para um disco do Beastie Boys, em que o velhinho pegou uma flauta do pai de Sean, usou como baqueta e quebrou o instrumento. Para quem não sabe, o pai do Sean é ninguém menos que John Lennon. Apesar de muito boa, a história não acrescentava nada ao ponto principal do filme.

De que forma o Dub influenciou a música no Brasil? Quem hoje em dia, no Brasil, faz Dub?

O dub chegou por aqui mais como técnica, abordagem de técnicas de estúdio do que como um estilo ou gênero musical. Isso que é interessante, porque a mistura deu liga com muita gente, de Lucas Santtana a Nação Zumbi, CéU, Mombojó. Produzindo dub mesmo aqui no Brasil tem bastante gente boa: Digitaldubs Sound System (que fez atrilha original do filme), Echo Sound System, Buguinha Dub, o americano radicado em SP, Victor Rice, bastante gente.

Você considera o Dub um estilo ou um recurso?

Sem dúvidas, um recurso. Como diz o Marcelo Yuka no filme, "é uma maneira de ver a música".

O filme foi lançado primeiro na Europa. Porque isso? Qual a aceitação do público europeu? Que diferenças você encontra entre esse público e o brasileiro?

Por mais pedante que isso possa soar, pela minha experiência nos festivais europeus com o filme, o público de lá é infinitamente mais interessado. Mais do que isso, por lá eles tem mais noção do trabalho e esforço envolvido para se fazer um filme e tem noção da importância histórica desse tipo de registro. Enquanto por aqui é tudo visto como uma grande excentricidade, parece. Não a toa choveu convites para festivais, selos interessados em lançar e resenhas na imprensa por lá, e por aqui... Bom, nem precisa falar.

Onde o filme tem sido apresentado no Brasil? Como tem sido a aceitação do filme pelo público brasileiro ? Como o grande público pode ter acesso ao filme?

O filme passou no festival FILE aqui no Brasil, numa exibição muito pequena e confusa. Passou também na Bienal de SP dentro de uma seleçãodo Resfest e no FAM, em Florianópolis. Agora tem umas datas no festival In-Edit, em SP e no RJ, vindo em julho. O melhor caminho para ver o filme é mesmo comprar o DVD.

Como surgiu a oportunidade de exibir o filme no Florianópolis Audiovisual do MERCOSUL? O que você achou da repercussão do filme no evento?

A produção convidou. Não sei da repercussão pois não estive no evento.

O cd com A trilha sonora oficial do filme foi lançada este ano em Londres. Quando será lançado no Brasil?

O disco não sairá por aqui.

Como você vê a produção audiovisual independente no Brasil? Como você percebe a aceitação do público em relação aos filmes fora do circuito comercial?

É difícil e existe pouco incentivo. Quem faz, realmente, é por amor.

Tem algum outro projeto em vista?

Vários!


sexta-feira, 22 de maio de 2009

Indagação para o fim de semana

Da afirmação à questão:

"(...) um corpo que se eleva tende à destruição (...)" ???
Hunter S. Thompson, Screwjack

sábado, 2 de maio de 2009

"Torna-te quem tu és"


Enquanto esperava no hall do Centro de Eventos da Universidade Federal de Santa Catarina para assistir ao filme Fire, do bodyboarder havaiano Mike Stewart, perdia-me em reminiscências e considerações sobre a permanência de algumas coisas através dos tempos.

Há 21 anos atrás, quando eu ainda ensaiava as primeiras manobras, Mike Stewart já era unanimidade no circuito profissional de bodyboard. Nove vezes campeão mundial, foi eleito pela revista Surfer Magazine o melhor surfista de todos os tempos, mesmo sendo um bodyboarder. Pergunto-me se não seria o melhor atleta, já que, aos 46 anos, raríssimos esportistas continuam competindo.

Estreando no Brasil como parte da programação do Florianópolis Cine Action, evento que debateu a produção audiovisual de esportes de ação na natureza, Fire, o filme do bodyboarder produzido em conjunto com o cineasta Scott Carter, é antes de ser um filme de surf a biografia poética de Mike Stewart.

Filmada em 16 mm, com imagens feitas nos mais de 20 anos de carreira do atleta - algumas delas feitas pelo próprio Mike, com uma câmera acoplada na prancha - o vídeo levou cerca de 10 anos para ficar pronto. A trilha sonora é basicamente instrumental e muitas das músicas foram mixadas pelo produtor Scott Carter. As imagens passeiam na tela com um fundo sonoro que vai do trash metal ao Time do Pink Floyd, passando pelo reggae e bebendo na fonte da música clássica. Deslocam-se com uma intensidade que oscila entre a fluidez do mar e a agressividade da velocidade, indo do mar ao espaço estrelar até metaforizar o planeta em uma grande placenta humana.

Pensado e repensado, ele aborda a relação do homem com a natureza, sugerindo a descoberta de si mesmo a partir desta integração. Algo como uma expansão de consciência para a conexão com o todo. O filme reflete a concepção filosófica de vida do atleta, descoberta a partir da sua relação com o mar, nas suas próprias palavras: “quando você se liberta dos condicionamentos tem a chance de se conectar com aquilo que realmente é”. Fire é o fogo alquímico da transmutação.

sábado, 28 de março de 2009

História sem fim...

Ela podia parar. Mas nunca foi a hora... Olhou o relógio. Só por hábito. Diminuiu os passos, tinha pouco tempo, mas sempre teve a liberdade de escolher. Não lembrava da noite anterior, mas também não parava para pensar, apenas contaram. Não lembra quem.
Olhou o relógio mais uma vez. Não sabe porquê, afinal, nunca se importou com o tempo. Ele que se preocupava com aquela que ele não conseguia dominar. Continuava tentando...
Talvez porque os alinhamentos cósmicos estivessem emanando energias exóticas, talvez porque tivesse bebido na noite anterior, talvez porque tivesse visto aquele programa inútil na televisão; ela se transformou.
Tornou-se inconsequente aos 30. Às dezoito horas e 30 minutos, algo incomodou. Algo. Sem definição. Jogou fora o contrato assinado consigo mesmo. Andou , andou, andou...dentro de si.
Resolveu sair. Alguma coisa queimava por dentro. E transformou em sarcasmo todas as palavras que expulsou pela boca. Mas ninguém escutou. Ela não deixou que escutassem.
Tinha consciência da acidez que corroia por dentro, e resolveu alimentá-la.
Foi em um restaurante mexicano, pediu tequila e alguma comida quente, muy caliente. Estava pronta.
Entrou no próximo bar. Descobriu que nada era como na noite anterior. Mas como havia sido a noite anterior? Onde havia estado? Aquela angústia ela já tinha jogado na lata de lixo de uma esquina qualquer. Não saber era só uma questão de bom senso.

domingo, 8 de março de 2009

"Sem música a vida seria um erro"
F. Nietzsche

Dizem que a música é dionisíaca, ela não tem forma, molda-se aos sentimentos, desperta emoções, viaja no espaço e no tempo. A música é capaz de ligar nações e pessoas distintas, a música pode ser o que mais próximo conseguimos chegar do que sentimos por liberdade.
Acreditando no ideal da música como forma de buscar um mundo melhor para se viver , como forma de conectar povos e culturas, artistas e pessoas interessadas na música como forma de mudança criaram o "Playing for Change Foundation", um projeto social fantástico que se expande por diversas partes do mundo criando desde uma escola para jovens escritores em Johannesburgo, África do Sul, "The Melo Arts Center", até um centro para refugiados tibetanos em Dharamsala, na Índia, e outro em Katmandu, no Nepal.
O projeto ainda prevê a construção junto com os moradores locais de Gugulethu, África do Sul, de uma escola de música (Ntonga Music School) em que levará aos jovens informação e tecnologia como alternativa a violência local.


É dentro deste projeto que se insere o vídeo "Playing for Change: Peace Throught Music" co-dirigido por Mark Johnson e Jonathan Walls e que deverá ser lançado na primavera setentrional de 2009. Durante 3 anos eles percorreram quatro continentes com câmeras e um estúdio móvel de gravação atrás de inspiração musical. O que eles descobriram na sua jornada foi o poder da música de conectar pessoas, que se materializa quando colocam artistas que nunca se viram e espalhados pelo mundo para recriarem juntos músicas como "One Love" e "Stand by me".
Segue abaixo a interpretação de "Stand by me" de Ben E. King. É de arrepiar...




Artistas envolvidos no projeto:

De Los Angeles Keb' Mo' and Band, Chantz Powel, Lily Holbrook, Los Pinguos, Robert Bradley e Roger Ridley; em Zuni, ainda nos Estados Unidos, o Twin Eagle Drum Group; de Nova Orleans, Grandpa Elliot, Roberto Luti, Washboard Chaz e Willow; de Nova Iorque, Bradford Reed, Black and White, Floyd Lee, Henry Jones Trio e Inspiration.

Espanha: Los Batukeros de La Calle, Caesar Pope, Clarence Bekker, Dimitri Dolganov, Jairo, Manu Chao, Pierri Minetti, Django e The Saw Duo.
De Israel vem David Broza e The Nazareth Orchestra; assim como The Edward Said National Conservatory of Music vem da Palestina.

Da África do Sul : Afro Fiesta, Tyhundza, Joe and the Ganjamuffins, Louis Mhlanga, Vusi Mahlasela, Martin Machapa, Lesego Rampolokeng, King Boys, Phakama Africa e Sinamuva.

Exile Brothers, Jam Yang Tashi, Tipa, Tsering Gyurmey, Rajhesh Vaidhya e The Oneness Choir são artistas da Índia, enquanto Rodi Char, Sechen Monks, Hymalayan Sherpa Art Center, Sur Sudha e Surajkumar Thapa do Nepal.


Beijossssss

segunda-feira, 2 de março de 2009

As "Préliminaires" de Iggy Pop

Cansado das guitarras Iggy Pop resolveu descambar para o jazz. Passou a escutar Louis Armstrong e outros jazzistas da antiga New Orleans, misturou com literatura e o resultado será o lançamento do álbum "Préliminaires" previsto para maio deste ano. As músicas foram inspiradas no livro "A Possibilidade de uma Ilha" do escritor transgressor francês Michel Houellebecq e feitas para um documentário (Last Words) sobre a tentativa do autor de transformar seu filme em livro.
Segue vídeo trailer do álbum.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Todo DJ vai ter que sambar

Hoje em dia todo mundo é dijai, desde aquele que produz até o reles trocador de discos, e o Senador Romeu Tuma (PTB – SP) não quis deixar de participar da festa. É de sua autoria o Projeto de Lei que tramita no Senado e que pretende regulamentar a profissão de dj, que passará a exigir, caso seja aprovada, diploma de curso profissionalizante reconhecido pelo MEC ou pelo Sindicato da Categoria. Sendo aprovado no Senado irá para a aprovação na Câmara dos Deputados e sanção do Presidente da República.

Apesar de oferecer vantagens a categoria como vínculo empregatício, definição das obrigações e direitos do empregado e empregador em contrato de trabalho e reconhecimento profissional, resta saber se há um real interesse da classe nessa normalização. Por enquanto parecem estar divididos.

. Tais exigências, no entanto, não serão impostas a dj’s estrangeiros, desde que não fiquem em território nacional por mais de 60 dias. Por falar nisso, a lei define também a obrigatoriedade de que em qualquer evento em território nacional, 70 % dos dj’s deverão ser brasileiros, enquanto a contratação de dj’s estrangeiros ficará submetida ao repasse de “10 % do valor do ajuste à Caixa Econômica Federal em nome da entidade sindical da categoria profissional.”

Logicamente uma lei como essa irá gerar burocracia e impostos para o exercício de uma profissão que, ao crescer, fez também crescer os olhos de quem talvez nem saiba dançar.

Imagine você se daqui a pouco começarem a exigir diploma para músicos, veremos então Chicos Buarque, Marisas Monte e uma infinidade de bandas que se fizeram na prática tendo que voltar a cadeiras escolares para continuar a exercer sua arte. Agora a pergunta que não quer calar: alguém já pensou em exigir diploma univeristário para exercer o cargo de Presidente da República?


Veja o Projeto de Lei na Íntegra no Diário do Senado Federal : Projeto de Lei do Senado nº 740, de 2007. (págs. 46699 a 46702)

http://legis.senado.gov.br/mate-pdf/12179.pdf


terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Com a palavra, Don Juan

Retirado do livro "A Erva do Diabo", Carlos Castañeda


"Quando um homem começa a aprender, ele nunca sabe claramente quais seus objetivos. Seu propósito é falho; sua intenção, vaga. Espera recompensas que nunca se materializarão, pois não conhece nada das dificuldades da aprendizagem.
Devagar, ele começa a aprender... a princípio, pouco a pouco, e depois em porções grandes. E logo os seus pensamentos entram em choque. O que ele aprende nunca é o que ele imaginava, de modo que começa a ter medo. Aprender nunca é o que se espera. Cada passo da aprendizagem é uma nova tarefa, e o medo que o homem sente começa a crescer impiedosamente, sem ceder. Seu propósito torna-se um campo de batalha.

E assim ele deparou com o primeiro de seus inimigos naturais: o medo! Um inimigo terrível, traiçoeiro, e difícil de vencer. Permanece oculto em todas as voltas do caminho, rondando, à espreita. E se o homem, apavorado com a sua presença, foge, seu inimigo terá posto um fim a sua busca. ... nunca aprenderá. Nunca se tornará um homem de conhecimento. ... Não deve fugir. Deve desafiar o medo ... Deve ter medo, plenamente, e no entanto não deve parar. ... seu primeiro inimigo recua. O homem começa a se sentir seguro de si. .... Uma vez que o homem venceu o medo, fica livre dele o resto da vida, porque, em vez de medo, ele adquiriu clareza ... um clareza de espírito que apaga o medo. ...

E assim ele encontra seu segundo inimigo: a Clareza! Essa clareza de espírito, que é tão difícil de obter elimina o medo, mas também cega. Obriga o homem a nunca duvidar de si. Dá-lhe a segurança de que ele pode fazer o que bem entender, pois ele vê tudo claramente.

E ele é corajoso porque é claro e não para diante de nada porque é claro. Mas tudo isso é um engano, é como uma coisa incompleta. Se o homem sucumbir a este poder de faz-de-conta, sucumbiu ao seu segundo inimigo e tateará com a aprendizagem ... até acabar incapaz de aprender de aprender mais qualquer coisa. ... tem de desafiar sua clareza e usá-la só para ver, e esperar com paciência e medir com cuidado antes de dar novos passos.; deve pensar, acima de tudo, que sua clareza é quase um erro. E virá um momento em que ele compreenderá que a sua clareza era apenas um ponto diante de sua vista. E assim terá vencido o seu segundo inimigo,...
Ele saberá a essa altura que o poder que vem buscando a tanto tempo é seu, por fim. Pode fazer o que quiser com ele. Seu aliado está as ordens. Seu desejo é a ordem; vê tudo o que está em volta. Mas também encontrou encontrou o seu terceiro inimigo: o Poder! ... é o mais forte de todoso os inimigos. E naturalmente a coisa mais fácil é ceder; afinal de contas, o homem é realmente invencível. Ele comanda; começa correndo riscos calculados e termina estabelecendo regras, porque é um senhor.
Um homem que é derrotado pelo poder morre sem realmente saber manejá-lo. O poder é apenas uma carga em seu destino. Um homem desses não tem domínio sobre si, e não sabe quando ou como usar seu poder. ...
... Tem de vir a compreender que o poder que parece ter adquirido, na verdade nunca é seu. ... Se conseguir ver que a clareza e poder, sem seu controle sobre si, são piores do que os erros, ele chegará a um ponto em que tudo estará controlado. Então, saberá quando e como usar seu poder. E assim terá derrotado seu terceiro inimigo.
O homem estará então, no fim de sua jornada do saber, e quase sem perceber encontrará seu último inimigo: a Velhice! Este inimigo é o mais cruel de todos, o único que ele não conseguirá derrotar completamente, mas apenas afastar.
É o momento em que o homem não tem mais receios, não tem mais impaciências de clareza de espírito ... um momento em que todo o seu poder está controlado. mas também o momento em que ele sente um desejo irresistível de descansar. Se ele ceder completamente ao seu desejo de se deitar e esquecer, se ele se afundar na fadiga, terá perdido o último round, e seu inimigo o conduzirá a uma criatura velha e débil. Seu desejo de se retirar dominará toda a sua clareza, seu poder e sabedoria.
Mas se o homem sacode a sua fadiga, e vive o seu destino completamente, então poderá ser chamado de um homem de conhecimento, nem que seja no breve momento em que ele consegue lutar contra o seu último inimigo invencível. Esse momento de clareza, poder e conhecimento é o suficiente."