segunda-feira, 28 de julho de 2008

FORA DE CONTROLE

Nasci em 1976. Joy Division também. Fui escutar sua música muitos anos depois, mas a poesia densa de Ian Curtis e sua melodia mórbida influenciou grandes bandas da minha pré-adolescência, como Talking Heads e New Order. Esta última formada pelos remanescentes do Joy Division após a morte do vocalista Ian Curtis.
“Control”, dirigido pelo fotógrafo Anton Corbijn, autor das mais famosas fotos da banda, retrata a vida e o conflito de Curtis até o seu suicídio em 1980. Sim, ele morre no final, e não há problemas em contar, já que acredito que a grande maioria que assiste o filme já vai sabendo o desfecho da história.

“A existência....porque dar importância a ela?”

Exprimindo o pensamento de Ian Curtis, é esta frase desesperançosa que dá início a história. Ninguém melhor que um fotógrafo para dirigir um filme sobre um homem afundado em si mesmo, capaz de exprimir seus conflitos apenas através da poesia. A fotografia em preto e branco retrata bem a angústia em que vivia o artista, algo que não era exclusivo dele, mas característico da sociedade inglesa da época, afundada em profunda depressão econômica e desacreditada em qualquer futuro.
Era o auge do movimento punk britânico. Sex Pistols, Lou Reed, The Stooges. Era neles que a adolescência britânica apoiava-se. Foi inclusive na saída de um show do Sex Pistols que a Joy Division se formou.
Curtis era catártico no palco. Seu olhar parecia oscilar entre uma indiferença sonolenta e um transbordamento de emoções caóticas. Suas letras não protestavam contra a ordem estabelecida, falavam talvez, do reflexo que esta ordem causava em si e com a qual toda a sua geração identificava-se. Era uma lógica subjetiva, não social.
Como o filme é baseado no livro de Débora Curtis (esposa de Ian), "Touching from a Distance", ele gira em torno da divisão emocional de Ian entre a família que construiu precocemente, a amante, a música e a epilepsia que o consumia. Esta última chega a ser glorificada como parte de uma performance esdrúxula, como mostra quando ele tem um ataque em pleno show cantando “Dead Souls”.
Curtis parecia dominar a sua esposa, da mesma forma que parecia exercer um controle constante sobre suas emoções, através de um não envolvimento com os que o rodeavam. Parecia estar presente apenas de corpo e suas crises poderiam muito bem refletir o extravasamento deste imenso fluxo de sentimentos contidos. Sublimava tudo isto na música, na sua poesia, na sonoridade mórbida, na movimentação freneticamente peculiar do seu corpo. Ian pareceu-me inacessível. Mas isto não importa.
A fotografia do filme fala por si só, a trilha sonora escancara, o ator encarnou o personagem de forma assustadora, o filme perturba, considero uma verdadeira obra de arte. CLAP, CLAP, CLAP....

Nenhum comentário: